O nome Kuan
Shih Yin, como é freqüentemente chamada, significa literalmente
"aquela que considera, vigia e ouve as lamentações do mundo".Segundo
a lenda, Kuan Yin estava para entrar no céu, porém parou no limiar
ao ouvir os gritos do mundo

Existe ainda muito debate acadêmico relativo à origem
da devoção à bodhisattva feminina Kuan Yin. Ela é considerada a
forma feminina de Avalokitesvara, bodhisattva da misericórdia do
Budismo indiano, cuja adoração foi introduzida na China no terceiro
século.
Estudiosos
acreditam que o monge budista e tradutor Kumarajiva foi o primeiro a
se referir à forma feminina de Kuan Yin, em sua tradução chinesa do
Sutra do Lótus, em 406 a.C. Dos trinta e três aparecimentos do
bodhisattva mencionados em sua tradução, sete são femininos.
(Devotos chineses e budistas japoneses desde então associaram o
número trinta e três a Kuan Yin.)
Embora Kuan Yin tenha sido retratada como um homem até
o século X, com a introdução do Budismo Tântrico na China no século
oitavo, durante a dinastia T'ang, a imagem da celestial bodhisattva
como uma bela deusa vestida de branco era predominante e o culto
devocional a ela tornou-se crescentemente popular. No século nono
havia uma estátua de Kuan Yin em cada monastério budista da China.
Pela lenda
do século XII , do santo budista Miao Shan, a princesa chinesa que
viveu em aproximadamente 700 a.C. e que largamente se acredita tenha
sido Kuan Yin, reforça a imagem da bodhisattva feminina. Durante o
século XII monges budistas estabeleceram-se em P'u-t'o Shan - a
ilha-montanha sagrada no Arquipélago de Chusan, ao largo da costa de
Chekiang, onde se acredita tenha Miao Shan vivido por nove anos,
curando e salvando marinheiros de naufrágios -, e a devoção a Kuan
Yin espalhou-se ao longo do norte da China.

Essa ilha pitoresca tornou-se o centro principal de
adoração à Salvadora misericordiosa; multidões de peregrinos
viajavam dos mais remotos cantos da China e até mesmo da Manchúria,
Mongólia e Tibet para assistir ali às cerimônias religiosas. Houve
época em que havia mais de cem templos na ilha e mais de mil monges.
As tradições narram inúmeras aparições e milagres de Kuan Yin na
ilha, sendo relatado que ela aparecia aos fiéis em uma certa gruta
local.
Na seita
"Terra Pura" do Budismo, Kuan Yin faz parte de uma tríade governante
que é representada freqüentemente em templos e é um tema popular na
arte budista. Nessas pinturas o Buda da Luz Ilimitada - Amitabha
(chinês A-mi-t'o Fo e japonês Amida) está no centro; à sua direita
está o Bodhisattva da força ou poder, Mahasthamaprapta ,e à sua
esquerda está Kuan Yin, personificando a misericórdia infinita.
Na teologia
budista, Kuan Yin é às vezes representada como comandante do "barco
da salvação", guiando almas ao paraíso oriental de Amitabha ou Terra
Pura - a terra do êxtase onde almas podem renascer para receber
instruções contínuas no sentido de alcançar a iluminação e a
perfeição. Acredita-se que a misericordiosa redentora Kuan Yin
expressa a compaixão de Amitabha de uma forma mais direta e pessoal,
e que as preces a ela dirigidas são atendidas mais rapidamente.
Os símbolos característicos associados a Kuan Yin são um galho de
salgueiro, com o qual ela esparge o néctar divino da vida; um vaso
precioso, simbolizando o néctar da compaixão e da sabedoria, traços
do bodhisattva; uma pomba representando a fecundidade; um livro ou
um pergaminho de orações que ela segura em sua mão, simbolizando o
dharma (ensinamentos) do Buda ou o sutra (texto budista) o qual Miao
Shan, dizia-se, recitava constantemente; e um rosário adornando seu
pescoço, através do qual ela clamava aos Budas por socorro.
Hoje Kuan Yin é reverenciada por taoístas e também pelos budistas
Mahayana - especialmente em Taiwan, Japão e Coréia, e novamente em
sua pátria, a China, onde a prática do Budismo havia sido suprimida
durante a Revolução Cultural comunista (1966-69). Ela é a protetora
das mulheres, dos marinheiros, dos comerciantes, dos artesãos e
daqueles que se encontram sob perseguição criminal, e é invocada
particularmente por aqueles que desejam progênie. Amada como a
figura da Mãe e mediadora divina que está muito próxima dos negócios
diários de seu devotos, o papel de Kuan Yin como madona budista tem
sido comparado ao de Maria, a mãe de Jesus, no Ocidente.
Acredita-se
que Kuan Yin freqüentemente aparece no céu ou nas ondas para salvar
aqueles que a invocam quando em perigo. Histórias pessoais podem ser
ouvidas em Taiwan, por exemplo, de pessoas que a viram durante a
Segunda Guerra Mundial aparecendo no céu como uma jovem, agarrando
as bombas e cobrindo-as com as suas vestes brancas para que não
explodissem.
Os seguidores devotos de Kuan Yin podem freqüentar
templos locais e podem fazer peregrinações a templos maiores em
ocasiões importantes ou quando sofrem com um problema especial. Os
três festivais anuais realizados em sua honra acontecem no dia
dezenove do segundo mês (celebrado como o seu aniversário), do sexto
mês, e do nono mês do calendário lunar chinês.